segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Começando o dia indignada



Gosto de caminhar na orla da Lagoa da Pampulha. É como, normalmente, começo o meu dia. Sempre na companhia de meu marido. Um dando força pro outro, pra que a gente não caia na tentação de desistir diante de qualquer intempérie – como uma simples mudança de tempo, por exemplo. Além de desanuviar a cabeça, cumpro, assim, a minha cota diária de atividades físicas, tão recomendadas, hoje em dia, pra prevenir uma série de males da vida moderna.

A vida ali começa cedo. Mal o dia clareia, é possível encontrar pessoas andando, correndo, pedalando...enfim, fazendo o que mais lhes apraz em um lugar inspirador como aquele. Sim, inspirador. Eu me sinto privilegiada de morar na região e poder, todo santo dia, me exercitar ao lado de gente bonita, apreciando a paisagem exuberante, as residências do entorno e, se a gente der sorte, acompanhar uma família de capivaras em seu passeio matinal. Apesar do trânsito intenso, nada mais ali lembra que estamos em uma metrópole. A não ser, é claro, o mau cheiro que exala da Lagoa em alguns trechos e a sua extrema poluição.

Hoje, de forma muito especial, essa poluição saltou aos olhos. Era estarrecedora a quantidade de sujeira que havia espalhada nas águas. Garrafas plásticas, de água e refrigerante. Cocos e mais cocos. Sacos plásticos. Latas de cerveja. E só Deus sabe mais o quê. Confesso, fiquei chocada com o que vi. E com vergonha, muita vergonha de meus semelhantes. Que ocupam um espaço público nos fins de semana, levam seus filhos para passear e, sem constrangimento algum, jogam toda sorte de lixo nas águas da Lagoa. Como se isso fosse o normal a se fazer em uma situação assim. Indignada, comecei a matutar enquanto caminhava. Será que fazem o mesmo em suas casas? Em que espécie de chiqueiro essas pessoas devem morar? Que tipo de ensinamento passam para seus filhos? E exemplos? Como são capazes de jogar lixo fora do lugar com a cara mais limpa e nenhuma vergonha? Desculpe, mas não me entra na cabeça. Mesmo!

Dirão alguns: “Ah, mas é preciso que a Prefeitura, o Estado, o governo federal  – e mais não sei quem  –  faça campanhas educativas, instrua o povo!” Ahnnn? Não é vergonhoso precisar fazer uma campanha pra mostrar que lugar de lixo é no lixo, e não na rua, na lagoa, ou jogado pela janela do carro? Será que isso não é óbvio demais?  A indignação é a mesma quando entro em um banheiro feminino e, lá, deparo com cartazinhos do tipo:”  Não jogue absorvente no vaso.” Deus, será que existe uma mulher, em sã consciência, que seja mal-educada a esse ponto? E jogue um absorvente no vaso?

Olha, me recuso a ver as coisas por esse ângulo . O básico de  educação e civilidade a gente tem que saber. E colocar em prática. Pra mim, é muito difícil entender uma pessoa que toma uma água de coco e joga o coco dentro de qualquer outro lugar que não seja o LIXO. Ou que o deixa às margens, quando poderia colocar nas lixeiras assim que acabasse de tomar ou, então, quando fosse embora. Qual a dificuldade que há nisso? Deve ser a mesma que, muitas vezes, nossos filhos têm de jogar no lixo os milhares de papeizinhos de Bis e de balas que chupam enquanto veem TV ou estão no computador. Educação – por mais clichê que isso possa parecer – começa em casa. Nos pequenos detalhes. De nada adianta estudar no colégio mais caro da cidade e fazer os mais badalados cursos se não sabe viver em sociedade, respeitando o outro e a coletividade.

Claro – e isso é indiscutível – que a parte de responsabilidade do poder público tem que ser feita. Nós, belo-horizontinos, sabemos que o problema com a poluição da Lagoa é antigo. Quem mora na região, e aprendeu a admirar esse cartão-postal de nossa cidade, almeja uma solução rápida e eficaz para o problema. Definitiva, espera-se. Mas o que vi, hoje pela manhã, é de inteira responsabilidade nossa, da população. Cuidar de nossos espaços públicos, zelar pela sua limpeza e integridade, eis aí o mínimo que podemos fazer por aquilo que é de todos, e de ninguém em particular. A Lagoa é um patrimônio de BH. E tratar bem dela e de seu entorno é tarefa de todo mundo.


Um comentário:

  1. Lisa, você está certíssima.Meu irmão morou na Alemanha vários anos e, quando voltou, foi morar numa rua da zona sul, próxima à Cidade Jardim , mas seus moradores não respeitavam horário da coleta de lixo e ela vivia imunda. Ele resolveu educar os moradores: escreveu uma carta para todos e começou a fiscalizar.No princípio, foi considerado por alguns o "mala" da rua. Acredite, ele conseguiu torná-la limpa,o pessoal tomou gosto e começou a participar.

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