quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Sobre gorduras, regimes e afins


 Nunca fui magra. Faço parte daquela turma que sempre esteve acima do peso. Desde o nascimento. O que não significa, entretanto, que tenha sido, ou seja, obesa. Longe disso. Sou daquelas mulheres que sempre foram mais para gordinhas. Sempre com alguns quilinhos a mais. Sempre desejando perder quatro, cinco, seis quilos para ficar melhor na fita.

Na infância, posso dizer que sofri. Com o preconceito. Com as piadinhas. Com os apelidos. Foram tantos... Orca(a baleia assassina- sucesso das telonas em minha época), CB Merci (supermercado Casas da Banha, famoso em meus tempos, e que tinha um porquinho como símbolo), dentre outros. Confesso: não foi nada fácil. A ditadura da magreza não é privilégio da modernidade. Ela sempre existiu. Os tempos é que eram outros. As modelos de minha época eram mais curvilíneas, tinham o famoso corpo de violão  –  bem mais feminino que os músculos que imperam nas “gostosonas” de hoje, ou a magreza esquelética das modelos de passarela mais famosas do mundo.

Porém, eu não me enquadrava no padrão curvilíneo também. Eu não tinha corpo bonito, com curvas, como das modelos. Independentemente do tempo, dos modismos, dos padrões estéticos vigentes, eu sempre estive fora dos padrões. Por isso, sempre sofri. Sobretudo na adolescência – período em que nossas inseguranças afloram com mais intensidade. Lembro-me bem que, morando em Belo Horizonte,  eu adorava saber notícias a respeito de uma prima que morava( e continua morando) em Ubá – o nome dela é Emília – , e que também era gordinha, até mais que eu. Sentia-me confortável em saber que ela continuava gorda, que não tinha emagrecido. Ela funcionava como um consolo pra mim: eu não era  a única "diferente". Algo mais ou menos assim.

O tempo passou. Fui percebendo que só havia uma possibilidade de emagrecer: fazer regime. O que significava privar-me de tudo aquilo que eu adorava comer. E essa ideia não me agradava. Não se falava, nesse período, de reeducação alimentar. Um processo em que você vai, gradualmente, aprendendo a comer melhor. De tudo, um pouco, mas sem exageros. Era REGIME mesmo. O que significava PRIVAÇÂO. Eu não dava conta de vivenciar essa experiência. Recusava-me a abandonar meus prazeres à mesa para ficar magra. Com essa visão, iniciei um processo natural de aceitação. Fui, aos poucos, tirando a obsessão do emagrecimento da minha vida. Deixando de me preocupar. E, naturalmente, fui deixando de engordar. Meu peso estagnou. Sem eu precisar fazer nada de diferente. E assim a vida foi seguindo. Sem dramas. Sem complexos. Sem grandes mudanças corporais. E sem dietas. E aprendi a gostar muito de mim. Muito mesmo. Aprendi a ver beleza onde, antes, só enxergava defeitos. E fui me tornando mais confiante.

 Casei-me com um homem que me acha a mulher mais linda do mundo. E diz, todos os dias,  que me ama demais. Quem nos conhece sabe que não estou exagerando. Nem posando de gostosa. Ele é assim mesmo. Graças a Deus! Tive minha filha. O corpo mudou. O peso, nem tanto. E fui aprendendo a gostar de mim com esta nova roupagem. E tenho conseguido. Verdade que adoraria perder dois, três, quatro quilos... Ah, isso aí não muda. Jamais. Mas não sofro com a presença deles em minha vida. Não mesmo. Se começarem a me fazer sofrer, então vou arrumar uma maneira de extirpá-los. Não é o caso. Consigo gostar de mim da forma como sou. E isso é libertador.

Caminho todos os dias por, pelo menos, uma hora. Procuro ter uma alimentação o mais saudável possível. Aos 45 anos, estou na pré-menopausa. Quero envelhecer bem e continuar na ativa. Evito os excessos. Mas não abro mão de nada pela vaidade. Se percebo alguma oscilação no peso(para mais, claro), tomo minhas providências para fazer o ponteiro da balança voltar aos números habituais. Tenho um corpo que aprendi a aceitar. E a amar. Mas não quero aumentar meu manequim em nem um número. Que isso fique bem claro. Aceitação não quer dizer desleixo, nem entrega. Quer dizer, simplesmente, que eu – há muito, diga-se de passagem – não corro atrás de padrões estéticos que não correspondem a minha realidade. Que não vislumbro a magreza como ideal de vida. Que enxergo beleza, harmonia, sensualidade no corpo que é minha morada. E que tem me dado muitas alegrias ao longo da vida.

2 comentários:

  1. Fico feliz pela sua transformação, Liza. É triste ter que passar por esses momentos, em que a gente simplesmente não se encaixa em um padrão definido sabe-se lá por quem...mas faz parte do crescimento. Aceitar-se, deixar essa beleza transparecer e fazer com que as pessoas, como o seu marido, enxerguem em você o que há de mais belo :)
    Na minha opinião, o tempo só te fez bem. E qual é a mulher que não quer perder 2 ou 3 kg?

    Um beijão, Mariana (ex-aluna e nova leitora)
    Acho que meu último comentário não apareceu...não sei o que deu de errado. Espero que tenha conseguido entrar no meu blog http://douxautomne.wordpress.com

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  2. Parabéns, adorei o que você escreveu. Como sabe eu sempre fui obesa, fiz uma redução de estômago há 5 anos por motivos de saúde. Hoje em dia sou menos gorda, sem nenhum problema daqueles que me afligiam antes da cirugia, mas estou sempre atenta à minha alimentação que hoje é mais saudável. Continuo muito gorda para os padrões chamados "normais", nunca vislumbrei ser uma "Gisele" até mesmo porque cada pessoa é única na sua maneira de ser e sentir a vida. Hoje cuido do meu peso como sempre fiz só que muito mais feliz e como gostando muito do que conquistei. Beijos, de sua amiga.

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