quarta-feira, 21 de março de 2012

Pronto: falei!




“Se estou sentado no banco da frente do ônibus e entra um “velho”, eu finjo que estou dormindo.” Essa frase eu escutei, faz alguns dias, de um colega de trabalho, durante nosso intervalo para o cafezinho. Não sei o que me deixou mais assombrada: ouvir o que ele disse ou testemunhar a leva de colegas que disseram fazer o mesmo. 

No ano passado, quando foi anunciado que o ex-presidente Lula estava com câncer, iniciou-se, no Facebook, uma campanha para que ele fizesse o seu tratamento pelo SUS, o Sistema Único de Saúde. Estarrecida, acompanhei pessoas – algumas de meu convívio pessoal – aderindo à campanha, postando mensagens inflamadas contra Lula, num discurso raivoso e assustador, sem o mínimo respeito ao momento delicado por que passava com a terrível doença que o atingira.

Em situações as mais variadas, presencio, em meu cotidiano, pessoas criticando o governo, bradando contra a corrupção, os políticos e toda “essa corja que só quer saber de roubar o dinheiro de nossos impostos”, reclamando das estradas brasileiras e do número alarmante de mortes no trânsito, tecendo críticas mordazes ao nosso sistema de ensino – ao mesmo tempo em que enaltecem o ensino “lá fora”, claro – enfim, aquele discurso “lugar-comum”, bem clichê, que já se tornou rotina ouvir por aí. Um jeito meio “diogomainardi de ser”. Credo!!!

O mais curioso, entretanto, é que essas mesmas pessoas, muitas vezes, em seu dia a dia, na intimidade de seu lar, de seu trabalho, sonegam informação do Imposto de Renda, recebem troco a mais e não o devolvem, dirigem alcoolizadas e acham a Lei Seca um horror “é só pra fazer bonito e dar dinheiro pro governo”, atacam os homossexuais (os diferentes, de maneira geral) e a união homoafetiva num tom preconceituoso e cruel “só me faltava essa agora, casamento de boiola”... e por aí vai. Discurso cheio de uma suposta indignação, mas que não se sustenta em razão da sua fragilidade, incoerência e ignorância.

Confesso! Ando sem paciência com essa gente! Que discursa sobre a falta de limite das crianças (dos outros) de hoje, mas não educa os próprios filhos. Que faz campanha contra a corrupção e a moralidade nas redes sociais, mas não vê o menor problema em furar fila, jogar papel de bala pelo vidro do carro, gritar com o garçom e com a caixa do supermercado ou ensinar o filho a revidar uma agressão sofrida “se apanhar na escola, apanha mais quando chegar em casa”.

Quem deseja um mundo diferente precisa agir diferente. É preciso estar atento ao que dizemos e fazemos na frente de nossos crianças – sobretudo nossos filhos –, pois isso será aprendido, copiado e repassado. É assim que nascem os egoístas, mal-educados, antiéticos, homofóbicos, corruptos, preconceituosos, preguiçosos, moralistas, fanáticos... Lançar um olhar sobre o mundo a nossa volta e enxergar o “outro” que está ao nosso lado pode fazer muita diferença. A vida não se resume a nós e a nossas famílias.  E nem a nossos interesses apenas. Quando entendemos isso, a noção de coletividade ganha força e se faz presente. E o mundo começa a contar com pessoas melhores. O que, fatalmente, fará dele um lugar bem mais bacana pra todos nós.

7 comentários:

  1. Nossa Liza, disse tudo e um pouco mais......quisera eu que todos lessem seu texto e aprendessem com ele. Muitos lêem e abstraem, isso é fato! Ou simplesmente acham que não agem desta forma mas, acham que o mundo gira em volta deles, nem sequer percebem o mal que estão fazendo a seus filhos. São pequenos gestos que geram grandes feitos!!Queria compartilhar esse texto no meu mural. Continue assim sempre sincera, é de gente assim que nosso mundo PRECISA!!

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  2. Tenho esperança que um dia alcancemos este nível de consciência do que é coletivo ou individual, do respeito ao próximo , de não fazer julgamentos preconceituosos...Textos como este são um caminho. Parabéns.

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  3. Faço minhas suas palavras iluminadas! Este blog além de agradável está pra lá de educativo. Precisamos divulgar mais. Deus te oriente e conduza neste trabalho. Esta semeando paz e fraternidade. Pronto: declarei!

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  4. Assino embaixo Liza!!!!
    vc tem razão nas palavras bem colocadas.
    Ando adorando ler seu blog.

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  5. Liza, parabéns mais uma vez! Adoro ler o que você escreve. Continue nos presenteando com seus textos sensíveis e diretos. Beijos...

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  6. Nossa Liza, muito bem escrito e dito... se todos comentem pequenas "corrupções" como podemos cobrar ética? Se paramos em fila dupla, como podemos xingar o trânsito? E quando é na porta da escola, dando mal exemplo para as crianças? Um verdadeiro horror de contradicões e incoerências. Obrigada por seu texto tao lúcido

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  7. Liza, como sempre você brilhou com seu texto. Concordo com você em gênero, número e grau. Ler o que você escreve é um presente para nós. Continue sempre! Vou utilizar seu texto para uma reflexão na escola, pois lá muitos precisam ler o que você escreveu.Te admiro, Míriam! Beijos, minha amiga...

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