“Se estou sentado no banco da
frente do ônibus e entra um “velho”, eu finjo que estou dormindo.” Essa frase
eu escutei, faz alguns dias, de um colega de trabalho, durante nosso intervalo
para o cafezinho. Não sei o que me deixou mais assombrada: ouvir o que ele
disse ou testemunhar a leva de colegas que disseram fazer o mesmo.
No ano passado, quando foi
anunciado que o ex-presidente Lula estava com câncer, iniciou-se, no Facebook,
uma campanha para que ele fizesse o seu tratamento pelo SUS, o Sistema Único de
Saúde. Estarrecida, acompanhei pessoas – algumas de meu convívio pessoal –
aderindo à campanha, postando mensagens inflamadas contra Lula, num discurso
raivoso e assustador, sem o mínimo respeito ao momento delicado por que passava
com a terrível doença que o atingira.
Em situações as mais variadas,
presencio, em meu cotidiano, pessoas criticando o governo, bradando contra a
corrupção, os políticos e toda “essa corja que só quer saber de roubar o
dinheiro de nossos impostos”, reclamando das estradas brasileiras e do número
alarmante de mortes no trânsito, tecendo críticas mordazes ao nosso sistema de
ensino – ao mesmo tempo em que enaltecem o ensino “lá fora”, claro – enfim,
aquele discurso “lugar-comum”, bem clichê, que já se tornou rotina ouvir por
aí. Um jeito meio “diogomainardi de ser”. Credo!!!
O mais curioso, entretanto, é que
essas mesmas pessoas, muitas vezes, em seu dia a dia, na intimidade de seu lar,
de seu trabalho, sonegam informação do Imposto de Renda, recebem troco a mais e
não o devolvem, dirigem alcoolizadas e acham a Lei Seca um horror “é só pra
fazer bonito e dar dinheiro pro governo”, atacam os homossexuais (os
diferentes, de maneira geral) e a união homoafetiva num tom preconceituoso e
cruel “só me faltava essa agora, casamento de boiola”... e por aí vai. Discurso
cheio de uma suposta indignação, mas que não se sustenta em razão da sua
fragilidade, incoerência e ignorância.
Confesso! Ando sem paciência com
essa gente! Que discursa sobre a falta de limite das crianças (dos outros) de
hoje, mas não educa os próprios filhos. Que faz campanha contra a corrupção e a
moralidade nas redes sociais, mas não vê o menor problema em furar fila, jogar
papel de bala pelo vidro do carro, gritar com o garçom e com a caixa do
supermercado ou ensinar o filho a revidar uma agressão sofrida “se apanhar na
escola, apanha mais quando chegar em casa”.
Quem deseja um mundo diferente
precisa agir diferente. É preciso estar atento ao que dizemos e fazemos na
frente de nossos crianças – sobretudo nossos filhos –, pois isso será aprendido,
copiado e repassado. É assim que nascem os egoístas, mal-educados, antiéticos, homofóbicos,
corruptos, preconceituosos, preguiçosos, moralistas, fanáticos... Lançar um
olhar sobre o mundo a nossa volta e enxergar o “outro” que está ao nosso lado
pode fazer muita diferença. A vida não se resume a nós e a nossas famílias. E nem a nossos interesses apenas. Quando
entendemos isso, a noção de coletividade ganha força e se faz presente. E o
mundo começa a contar com pessoas melhores. O que, fatalmente, fará dele um lugar
bem mais bacana pra todos nós.
Nossa Liza, disse tudo e um pouco mais......quisera eu que todos lessem seu texto e aprendessem com ele. Muitos lêem e abstraem, isso é fato! Ou simplesmente acham que não agem desta forma mas, acham que o mundo gira em volta deles, nem sequer percebem o mal que estão fazendo a seus filhos. São pequenos gestos que geram grandes feitos!!Queria compartilhar esse texto no meu mural. Continue assim sempre sincera, é de gente assim que nosso mundo PRECISA!!
ResponderExcluirTenho esperança que um dia alcancemos este nível de consciência do que é coletivo ou individual, do respeito ao próximo , de não fazer julgamentos preconceituosos...Textos como este são um caminho. Parabéns.
ResponderExcluirFaço minhas suas palavras iluminadas! Este blog além de agradável está pra lá de educativo. Precisamos divulgar mais. Deus te oriente e conduza neste trabalho. Esta semeando paz e fraternidade. Pronto: declarei!
ResponderExcluirAssino embaixo Liza!!!!
ResponderExcluirvc tem razão nas palavras bem colocadas.
Ando adorando ler seu blog.
Liza, parabéns mais uma vez! Adoro ler o que você escreve. Continue nos presenteando com seus textos sensíveis e diretos. Beijos...
ResponderExcluirNossa Liza, muito bem escrito e dito... se todos comentem pequenas "corrupções" como podemos cobrar ética? Se paramos em fila dupla, como podemos xingar o trânsito? E quando é na porta da escola, dando mal exemplo para as crianças? Um verdadeiro horror de contradicões e incoerências. Obrigada por seu texto tao lúcido
ResponderExcluirLiza, como sempre você brilhou com seu texto. Concordo com você em gênero, número e grau. Ler o que você escreve é um presente para nós. Continue sempre! Vou utilizar seu texto para uma reflexão na escola, pois lá muitos precisam ler o que você escreveu.Te admiro, Míriam! Beijos, minha amiga...
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