quarta-feira, 11 de abril de 2012

Na esteira de Jesus



Impressionante como algumas coisas têm o poder de nos tocar, de nos sensibilizar, de mexer com as nossas emoções. Pode ser uma música. Um filme. Um poema. Uma palavra. Um gesto. Ou a visão do filho dormindo tranquilo em sua cama, protegido dos males e dos perigos do mundo. Diante da insensibilidade coletiva a que assistimos dia a dia, ser tocado por pequenas humanidades é ainda motivo de esperança. E de alegia.

Venho de uma família de tradição católica. Assim como todas as minhas irmãs, fui batizada, crismada,  fiz a Primeira Eucaristia, e só não recebi o sacramento do matrimônio porque não me casei na igreja. Como meu marido já havia sido casado, isso foi impedimento para que a cerimônia religiosa acontecesse. Porém, devo confessar: tenho uma vida familiar tão plena e feliz que  isso virou um mero detalhe. Do qual sequer me lembro..

Em meio à febre consumista que marca datas importantes do calendário cristão, acompanho, com entusiasmo, fé e interesse,  as comemorações religiosas, sobretudo as que envolvem Nascimento e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo. Mais precisamente, Natal e Páscoa. Esta, sobretudo, desperta-me ainda mais emoção, talvez pela forte carga dramática que envolve a Paixão de Cristo. Seu calvário, suas dores tão humanas, o sofrimento de Maria, Sua, e nossa, mãe. Pensar no martírio de nosso Deus, na Sua entrega à missao recebida do Pai, a despeito de todos os seus medos e dores, leva-me a refletir sobre a minha vida cristã. Sobre até que ponto tenho semeado, neste mundo, o ideal de amor, de paz, de justiça e de fraternidade do Reino que Deus prometeu a todos nós.

Para mim, uma das celebrações mais emocionantes da Semana Santa é a do Lava-pés, que acontece, sempre, na quinta-feira santa. É uma cerimônia em que  a Igreja relembra o gesto de Jesus, que, durante o Última Ceia, abaixou-se e, em sinal de humildade,  lavou o pé de cada um de seus discípulos, enxugando-os com a toalha que trazia amarrada à cintura. Ele era (é) o filho de Deus. Ele era (é) Deus. Mas o Seu poder foi exercido para ajudar os outros, para socorrer quem era marginalizado e explorado. Colocou no centro aqueles que viviam à margem. Acostumadas que estavam a um poder que oprimia, discriminava e injustiçava, as pessoas não compreenderam o poderio do Rei que amava, curava, libertava e dignificava. E o colocaram numa cruz.

Quando assisto ao Lava-pés, e ali presencio a humildade do Senhor Jesus, sinto-me tocada. E, inevitavelmente, instigada a refletir sobre a arrogância, a soberba,  a insolência que permeiam muitas das atitudes que tomamos em nossa vida. No trabalho, na escola, na família, em todos os lugares por que passamos. Que nos levam, tantas vezes, a destratar alguém que trabalha para nós. A não cumprimentar quem acreditamos ser "pequenos" demais para receber um "bom-dia", um "obrigado" ou "por favor". A levantar a voz e ofender quem nos contrariou por algum motivo. A achar, enfim, que somos melhores que os outros.

Vivemos um momento delicado da história da humanidade. Marcado por profundas ausências: de ética, de caráter, de honestidade, de amor, de humildade. Onde a lógica é o prazer a qualquer custo, o sucesso sob quaisquer condições, o poder sob qualquer tipo de governança. O gesto  de humildade de Jesus na Última Ceia deve ser inspiração para todos nós. A ser lembrado todas as vezes em que nos sentirmos tentados a agir sob a lógica do mundo, e não imbuídos da fraternidade e da solidariedade que nos tornam mais irmãos e humanos. Ninguém precisa ter religião para isso. Apenas o sincero desejo de fazer diferença no mundo e na vida das pessoas.

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