segunda-feira, 21 de maio de 2012

Ei! Psiu! Eu estou aqui!

Não sou uma especialista na arte de gerenciar pessoas, estou longe disso. Mas sou uma observadora  de comportamentos. E devo dizer que ando um tantinho preocupada com o que tenho visto e vivido. Não são poucas as vezes em que deparamos com situações em que temos que exercitar - no limite, diga-se de passagem - a nossa paciência.Ou corremos o sério risco de perder o controle e sair por aí esbofetendo um desafeto, jurando de morte um opositor ou, até quem sabe,  estrangulando alguém numa esquina. Exageros à parte, não anda fácil o nosso desafio de nos relacionar, sobretudo com quem mal conhecemos. Até porque ninguém anda colaborando muito pra isso não.

Há poucos dias, na fila para pagar umas compras em uma grande loja de decoração e produtos para casa, observei a atendente do caixa parada, ignorando, por completo, a fila que se formava a partir de mim. Ela admirava as próprias unhas, sendo incapaz de levantar o olhar para ver se já havia pessoas precisando de atendimento. Fiz-lhe um gesto, e ela, com cara de poucos amigos, acenou para que eu me dirigisse ao caixa. Assim que cheguei, dei-lhe boa-tarde, mas não fui correspondida. Com a mesma má vontade com que me chamou, ela continuou o seu "ofício", ignorando as observações que eu lhe fazia ou fazendo pouco caso delas.Cumpriu  a sua obrigação de passar os produtos, esquecendo-se de interagir com a pessoa que ali estava. É o tipo de funcionário "dispensa cliente", que, a meu ver, se não compromete o trabalho, colabora para uma imagem negativa de qualquer lugar.

Recentemente, chegando ao consultório da cardiologista para uma consulta  marcada há um ano, recebi da recepcionista a informação de que não havia atendimento naquele horário, já que ela só trabalhava ali  na parte da tarde . Sem querer acreditar que aquilo fosse verdade, tentei argumentar, dizendo que eu tinha um cartão com a marcação feita pela atendente. Visivelmente constrangida, a moça se desculpou, alegando uma troca da funcionária da recepção, fato que acabou gerando marcações erradas na agenda da médica. Inacreditavelmente, fui embora para casa, sem ter muito o que fazer. A não ser, marcar nova consulta para dali um mês.O que me restava? Gritar? Fazer um escândalo? Agredir a moça? A "doutora"? Vontade não faltou; coragem, sim. Tenho horror a cenas, baixarias e coisas do tipo. Porém,  a maior das deselegâncias  ficou a cargo das pessoas do próprio consultório. Médica e colaboradora. Desconsideração comigo, com meu tempo, com meus compromissos, com minha vida.

Casos como esse  se repetem todos os dias. Nos  consultórios e hospitais - públicos e privados. Sim, porque a negligência e a falta de comprometimento não são "privilégios" de uma classe social. Estão em todos os lugares. Todos os dias. A qualquer hora. E deparamos com elas no trânsito caótico e pouco civilizado. Na fila interminável do banco. No funcionário que se ausenta, e não comunica. No olhar irônico do atendente. Ou do cliente. Na descaso diante de uma reclamação. Na desconsideração com a nossa pessoa e a nossa história. A impressão que dá é que estamos todos num "ringue", cada um lutando pra defender o seu. Como se o outro fosse o nosso inimigo.Atingimos o ápice do individualismo, sendo levados a crer que não existe ninguém mais importante que nós mesmos. E nessa firme convicção, esquecemos de olhar quem está diante de nós.Alguém que espera. Enfrenta trânsito, fila. Luta pra chegar a tempo. Esforça-se pra construir algo.Economiza pra adquirir um bem. Histórias por trás dos fatos que ninguém leva em consideração antes de desferir a "flecha" da indiferença.

Precisamos mudar o curso desta história, voltando a observar direitos e a cumprir deveres. Por exemplo: de exercer, com responsabilidade e compromisso, o nosso ofício, seja ele qual for. De honrar a palavra dada, ainda que não documentada. De cumprir horários,  numa atitude de respeito com quem nos espera.De atender bem quem nos procura e anseia por nossa ajuda e orientação. De terminar um trabalho iniciado, e com prazo de entrega, antes de sairmos tresloucados diante do relógio que marca o fim do expediente. De não viajar no feriado, sim, se a  responsabilidade nos chama. Enfim, sermos capazes de uma atitude firme e responsável, ainda que o mundo inteiro diga que as coisas não funcionam mais assim.

Comprometer-nos mais com as coisas e as pessoas é um pequeno grande passo.Que pode dar início a histórias diferentes das que temos assistido e vivido por aí. Sim, o mundo mudou. E não foi pouco. Mas algumas regras e comportamentos são atemporais. Não saem de moda nunca. E, mais que isso, são uma exigência para que a roda do mundo comece a girar pra uma nova  e mais tranquila direção.







Um comentário:

  1. Texto fantástico, Liza! Entender que todos são importantes é para poucos, nesse mundo de egoístas...Uma pena, as coisas poderiam ser muito melhor se todos tomassem pequenas atitudes de consideração e cuidado. É preciso olhar pro lado, não só pra frente.

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